Meu paciente, que chamaremos de R. é um menino entre 4 e 6 anos com diagnóstico de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento - TID (uma situação no espectro do autismo – ou seja, tem algumas características de autismo, mas não o quadro completo).
Essa alteração tem como caractrísticas principais o atraso na fala, a dificuldade de sociabilização e uma dificuldade em tarefas que necessitem flexibilidade cognitiva.
A visita foi motivada após recebermos uma avaliação escolar de R. justamente ressaltando suas dificuldades. Ele não brinca bem com os amigos, se expressa pouco verbalmente e não gosta de mudar de atividades!!! Mas isso é toda a dificuldade dele! Se olharmos só os aspectos negativos de uma criança com TID ele vai sempre ter um desempenho horroroso na escola.
E a reunião foi bem nesse sentido. A escola (particular e muito boa, por sinal) tinha pouca informação sobre o quadro e à medida que fomos esclarecendo o diagnóstico com foco nas potencialidades de R. e não nas dificuldades, os próprios professores perceberam os avanços que R. vem apresentando e todo mundo saiu de lá feliz, com a certeza que estamos trilhando um caminho novo, mas cheio de possibilidades.
Depois eu fiquei me questionando, como está sendo realizada a inclusão destes pequenos na rede pública?! Se a rede particular, mais bem formada e informada, que tem acesso a um grupo de profissionais particulares, especialistas para orientação (além de mim, estavam presentes a fisioterapeuta e a psicóloga e ele ainda tem a fono acompanhando), uma família organizada e com recursos para todas essas terapias, em uma escola com 12 alunos por sala, tem dificuldades enormes, imagina na rede pública com 45 alunos em sala, sem o suporte desta parceria fundamental que é saúde / educação?
Pois é, eu vivo bem essa realidade no serviço público que trabalho! Crianças que vão à escola para ficar sentadinhas vendo o tempo passar, ou então agitadas, levando bilhetinho todos os dias.
Vale a reflexão: que futuro estamos dando às nossas crianças com dificuldades?? Que possibilidades estamos dando à esses pequenos? Como eu ouço das escolas: eu tenho 30 alunos mais o “fulano”! Como assim, mais o “fulano”? São 31 alunos, com suas individualidades, suas dificuldades e suas potencialidades.
Mas eu sou uma otimista quase patológica (rs) e acho que essa geração vai sofrer o que sofre toda geração que experimenta o novo, mas vai valer a pena, pois abriremos um belo caminho para as próximas gerações, de tolerância, de respeito e de convivencia com o diferente. Nem melhor, nem pior, só diferente. Vamos torcer!!
Boa semana! Um abraço!
Dra Alessandra
Dra Alessandra