segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O AUTISMO E A ESCOLA

Sei que essa semana íamos continuar falando do sono do lactente e da criança em idade escolar, mas sexta fui à escola de um paciente me reunir com a equipe pedagógica e quero contar à vocês as dificuldades da chamada educação inclusiva.

Meu paciente, que chamaremos de R. é um menino entre 4 e 6 anos com diagnóstico de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento - TID (uma situação no espectro do autismo – ou seja, tem algumas características de autismo, mas não o quadro completo).

Essa alteração tem como caractrísticas principais o atraso na fala, a dificuldade de sociabilização e uma dificuldade em tarefas que necessitem flexibilidade cognitiva.

A visita foi motivada após recebermos uma avaliação escolar de R. justamente ressaltando suas dificuldades. Ele não brinca bem com os amigos, se expressa pouco verbalmente e não gosta de mudar de atividades!!! Mas isso é toda a dificuldade dele! Se olharmos só os aspectos negativos de uma criança com TID ele vai sempre ter um desempenho horroroso na escola.

E a reunião foi bem nesse sentido. A escola (particular e muito boa, por sinal) tinha pouca informação sobre o quadro e à medida que fomos esclarecendo o diagnóstico com foco nas potencialidades de R. e não nas dificuldades, os próprios professores perceberam os avanços que R. vem apresentando e todo mundo saiu de lá feliz, com a certeza que estamos trilhando um caminho novo, mas cheio de possibilidades.

Depois eu fiquei me questionando, como está sendo realizada a inclusão destes pequenos na rede pública?! Se a rede particular, mais bem formada e informada, que tem acesso a um grupo de profissionais particulares, especialistas para orientação (além de mim, estavam presentes a fisioterapeuta e a psicóloga e ele ainda tem a fono acompanhando), uma família organizada e com recursos para todas essas terapias, em uma escola com 12 alunos por sala, tem dificuldades enormes, imagina na rede pública com 45 alunos em sala, sem o suporte desta parceria fundamental que é saúde / educação?

Pois é, eu vivo bem essa realidade no serviço público que trabalho! Crianças que vão à escola para ficar sentadinhas vendo o tempo passar, ou então agitadas, levando bilhetinho todos os dias.

Vale a reflexão: que futuro estamos dando às nossas crianças com dificuldades?? Que possibilidades estamos dando à esses pequenos? Como eu ouço das escolas: eu tenho 30 alunos mais o “fulano”! Como assim, mais o “fulano”? São 31 alunos, com suas individualidades, suas dificuldades e suas potencialidades.

Mas eu sou uma otimista quase patológica (rs) e acho que essa geração vai sofrer o que sofre toda geração que experimenta o novo, mas vai valer a pena, pois abriremos um belo caminho para as próximas gerações, de tolerância, de respeito e de convivencia com o diferente. Nem melhor, nem pior, só diferente. Vamos torcer!!

Boa semana! Um abraço!
Dra Alessandra

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O sono infantil

Essa semana abordaremos um tema fundamental para o bem estar da criança e da família: o sono do bebê.

Eu, como mãe, também já sofri com muitas noites em claro (mais que o necessário!!!) e sei que as questões relacionadas ao sono são muito frequentes. Espero que essas dicas ajudem pais e crianças para um sono tranquilo e dias de paz!!

Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento pleno das
potencialidades de todas as crianças. Especialmente no primeiro ano de vida, o cérebro passa por inúmeros processos de amadurecimento que repercutirão por toda a vida.

Sabe-se que o sono é fundamental para que o cérebro descanse e retenha os conhecimentos aprendidos durante o dia. Por isso, para a criança o sono é ainda mais importante.

A maior parte dos problemas do sono na criança, são o que chamamos de alterações na higiene do sono, ou seja, são comportamentais. Mudanças de pequenos hábitos podem ser o sufuciente para resolver um problema que incomoda a família toda.

Durante o primeiro ano de vida o padrão de sono é peculiar, pois reflete o amadurecimento acelerado do sistema nervoso. Assim, os ciclos de sono em recém-nascidos duram 60 minutos e no decorrer dos dois primeiros anos de vida prolongam-se para 90 minutos mantendo-se até a idade avançada.

Ao nascimento o sono ativo ocupa 40 a 50 % do tempo total de sono, enquanto o sono quieto dura 35 a 45 % e o indeterminado, 10 a 15 %. O índice de sono ativo decresce no primeiro ano de vida, atingindo níveis de 25 % antes de um ano de idade nível este que se manterá constante até a idade adulta.

Os padrões de sono dos bebês
Quantas horas os bebês precisam dormir?
Idade e número aproximado de horas de sono:
Recém-nascido: 16 a 20 horas por dia
3 semanas: 16 a 18 horas por dia
Seis semanas: 15 a 16 horas por dia
4 meses: 9 a 12 horas mais duas sonecas (2 a 3 horas cada)
6 a 9 meses : 11 horas mais duas sonecas (duas a horas horas cada)
1 ano: 10 a 11 horas mais duas sonecas (uma a duas horas cada)
18 meses: 13 horas mais uma ou duas sonecas (uma a duas horas cada)
2 anos: 11 a 12 horas mais uma soneca (duas horas)
3 anos: 10 a 11 horas mais uma soneca (duas horas)

Recém-nascido
Os recém-nascidos não sabem a diferença entre o dia e a noite. Precisam dormir e comer o tempo todo. Em geral, o recém-nascido dorme cerca de 16 a 20 horas no dia, por períodos de duas a quatro horas seguidas e acorda com fome. Com o tempo o bebê aprende a diferença entre dia e a noite e começa a dormir mais durante à noite.
Curiosidade: Quando o bebê ainda está no útero, o movimento de andar da mãe o embala para dormir. Sendo assim, o recém-nascido ainda adora ser balançado e embalado. Envolver o bebê com cobertas o fará se sentir "em casa". Muitos bebês também gostam de música.
Até 1 ano
Inicia-se a consolidação do sono noturno, porém despertares são comuns.
Nesta etapa o bebê ainda acorda para mamar durante a noite, mas dorme por períodos mais longos. Ocorre predomínio do sono durante a noite e ele também começa a ficar mais tempo acordado durante o dia.
Há muitas diferenças de um bebê para outro nessa idade, mas em geral um bebê de dois meses ainda precisa comer durante a noite.
Dica: Choramingar um pouquinho quando ele acorda é normal. É possível que ele se acalme sozinho.
O bebê de quatro meses dorme cerca de 9 a 11 horas por noite e tira mais ou menos duas sonecas de duas a três horas durante o dia. É uma fase de transição gradativa para duas sonecas diurnas.
Deve ser fixada uma rotina para a hora de dormir, tanto à noite quanto nas sonecas. A rotina é algo muito importante para um bebê de quatro a seis meses, por isso os horários de soneca e de dormir, e a forma como acontecem, devem ser mais ou menos os mesmos todos os dias.
Aos 6 meses o bebê está começando a ter suas próprias opiniões. Esta é a sua última oportunidade de decidir onde ele deverá dormir, sem que ele dê sua opinião a respeito.
As preocupações com o sono são comuns por volta dos oito ou nove meses. Pode haver uma fase em que o bebê acorde sozinho no meio da noite e acorde a todos na casa, mesmo depois de passado um período dormindo a noite toda.
Aos nove meses, os bebês dormem cerca de 11/12 horas por noite. Exatamente como acontecia antes, o bebê acorda várias vezes durante a noite. A diferença agora é que ele se lembra da mãe quando acorda e sente saudade. Se ele estiver acostumado a ser embalado ou acariciado para dormir, irá querer o mesmo tratamento no meio da noite.
O bebê normalmente tira duas sonecas nessa idade. As sonecas da manhã e da tarde são em geral de uma a duas horas.
Na próxima semana continuaremos abordando o sono do lactente até a adolescência!!
Não percam!
Um abraço
Dra Alessandra

sábado, 11 de setembro de 2010

Como é gostoso trabalhar com criança!!!

Atendi um menino dia desses, com 12 anos de uma vida absurdamente sofrida. Mas como criança é tudo de bom, ele entrou animado, sem lamentações e foi logo falando a respeito da sua saúde.

Tagarela e esperto, me contou que ele era um garoto sem nenhum problema até os 7 anos quando descobriram que ele tinha um tumor na cabeça: - Como é mesmo o nome mãe? – ele perguntou! A mãe respondeu: - Craniofaringeoma. E ele disse: - Ah!! Isso mesmo.

Obs: O craniofaringioma é uma neoplasia epitelial rara que surge na região hipotalâmica e da glândula pituitária originada de restos embrionários. Apesar de sua natureza benigna, estes tumores possuem uma evolução clínica maligna. Seu aspecto patofisiológico se deve à sua localização adversa, sua propensão a infiltrar tecido normal adjacente, aderir em estruturas intracraniais cruciais e sua recorrência após ressecção cirúrgica, principalmente após ressecção incompleta.

E retomou sua narrativa me contando que se submeteu a umas 5 ou 6 cirurgias e numa delas, perdeu a visão. Mas que o pior dessa fase foi a quimioterapia, que tirou muito sua energia!!

Ele então me disse que achava que tudo tinha acabado, quando veio novamente o tumor. E ele pergunta de novo a mãe: - Como chama mesmo quando volta? Recidiva, filho, ela respondeu.

A essa altura da consulta eu já não conseguia mais falar nada. Só ouvia emocionada seu relato preciso dos fatos.

Bem, ele me contou que nessa recidiva, nova cirurgia, uma complicação – a hidrocefalia. Nova cirurgia para colocação de válvula e um AVC (acidente vascular cerebral) na sequencia, que lhe tirou os movimentos do lado direito.

“ Mas tia – disse ele – nada que os exercícios na fisioterapia não resolvessem. Eu sou criança e a doutora disse que criança recupera rápido!”

E ele recuperou boa parte dos movimentos, voltou a andar e tem uma dificuldade leve no membro superior direito.

“Mas, aí, tia – disse ele – mais uma coisa aconteceu!! No início do ano eu tive um... Como chama mesmo mãe? Trombose venosa profunda, respondeu a mãe. Isso!! Na perna esquerda e fiquei sem andar. Eu chorei, mas a médica me lembrou que criança recupera rápido e eu sei que vou recuperar. Já estou quase andando sozinho de novo!!”

Eu estava paralisada, tanto pela fluência com que ele me contava a história, como pela força interior que demonstrava.

E ele finalizou a consulta me contando que há uma nova suspeita de recidiva, mas que ele tem certeza que “papai do céu” está com ele e tudo vai dar certo!!

A única queixa que ele fez, foi do remédio para tireóide que ele tem que tomar 20 minutos antes do café (um saco, né tia?). Pois é, eu, meio sem jeito, contei um pouco de mim! Eu tomo a mesma medicação e é chato mesmo!!! Ele adorou saber que eu também tomo o mesmo remédio!!

Terminamos a consulta conversando sobre a escola e a alfabetização em braile que ele está adorando e eu precisei de uns minutos e um copo d´água para retomar meu dia!!

Eu sou uma pessoa de fé, mas eu não sei se numa adversidade tão grande eu conseguiria manter a força interior desta forma. Por isso eu gosto de criança! Esse pureza, essa certeza que o mundo é bom e que tudo vai dar certo porque a vida está só começando me encantam.

E aqui estou eu, rezando muito para que o “papai do céu” faça tudo dar certo mês que vem na nova ressonância!!

Boa semana! Um abraço!
Dra Alessandra

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Uma conversa sobre Epilepsia

Embora seja um nome que traz muito preconceito quando dito, a epilepsia não é um bicho de sete cabeças. A epilepsia é um grupo de doenças que tem em comum a presença de crises epilépticas (ou convulsivas) recorrentes na ausëncia de condição tóxico-metabólica (meningite, baixa de glicose no sangue, etc) ou febre.

É importante salientar que crise epiléptica e crise convulsiva são a mesma coisa e que a crise é causada por descargas elétricas cerebrais anormais excessivas e transitórias das células nervosas.

O sintoma da crise depende da área cerebral envolvida. A crise tem inicio súbito e cessa espontaneamente. Afeta cerca de 1-2% da população com predomínio na infância e na terceira idade.

A causa depende da idade do paciente e do tipo de crise. As causas adquiridas mais comuns são, em crianças, hipóxia ou asfixia neonatal (falta de oxigênio no parto), traumatismo craniano, distúrbios metabólicos, mal formações cerebrais congënitas e infecções.

Em crianças maiores e adolescentes a mais comum é epilepsia idiopática ou primária que geralmente tem causa genética (familiar).

Na idade adulta temos as epilepsias idiopáticas, traumatismos cranianos, abuso de alcool e outras substäncias tóxicas, tumores cerebrais, AVCs (derrame cerebral) e as doenças parasitárias como a neurocisticercose (verme da carne de porco).

Para um correto diagnóstico da doença o primeiro passo é definir pela anamnese ou história clínica se o episódio é ou não de origem epiléptica. O diagnóstico da epilepsia é essencialmente CLÍNICO!

O exame complementar mais importante é o eletrencefalograma ou EEG, porém este pode ser normal em 30-40% dos pacientes epilépticos num primeiro exame.

O vídeo-EEG é um exame usado para melhorar a caracterização das crises epilépticas e só é utilizado nos casos de dúvida diagnóstica ou de epilepsia com indicaçao cirúrgica.

Exames de neuroimagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética) são importantes para afastar crises sintomáticas com lesão cerebral. Outros exames de imagem só são requeridos em casos mais graves com indicação cirúrgica.

A evolução é boa ou excelente na maioria dos casos, porém vai depender do tipo de epilepsia (síndrome epiléptica). Em mais da metade dos casos (60-70%) a evolução é para a cura após 2 a 4 anos de tratamento com medicação.

O tratamento é geralmente com medicamentos utilizados de forma contínua por um período relativamente longo (2 a 4 anos). O tratamento cirúrgico só é sugerido nos casos lesionais ou refratários (sem controle com remédio).

A maioria das crises ocorre ao acaso, de modo inesperado. Em alguns tipos de síndromes epilépticas podem ocorrer fatores desencadeantes de crises, tais como luzes piscando, privação de sono, ingestão de drogas e alcool, situações estressantes, período menstrual.

É importante salientar que no momento da crise, devemos somente proteger o paciente, virando-o de lado para que não se engasgue caso apresente sialorréia (baba excessiva). Não devemos tentar abrir a boca, puxar a língua ou enfiar qualquer material na boca da pessoa.

Embora seja uma doença que exija tratamento médico rigoroso e prolongado, a epilepsia é na maior parte dos casos um quadro com boa evolução e boa resposta ao tratamento que não incapacita, nem tão pouco modifica a vida do indivíduo afetado.

Um abraço
Dra Alessandra

Ansiedade na infância: por que nossas crianças sofrem com o amanhã?

Eu acho que a infância é, sem dúvidas, a melhor fase da vida. Onde tudo é lúdico e onde a vida ainda é mais diversão do que obrigação....