quarta-feira, 17 de outubro de 2012

NESTE DIA DO MÉDICO, TEMOS MUITO A COMEMORAR! SERÁ?



Fiquei olhando meio entristecida para o jornal e me perguntando se realmente temos motivos para comemorar. Num país onde os planos de saúde pagam em média 20 ou 30 reais uma consulta de um especialista que levou no mínimo 8 anos para se formar, entre graduação e especialização, onde o serviço público paga pela hora trabalhada um valor vergonhoso. Onde as pessoas morrem na fila esperando um exame ou uma avaliação especializada. Desculpe, mas vou discordar do meu conselho, pois acho que temos muito pouco a comemorar.

Eu adoro minha profissão. Gosto mesmo. De verdade. Sem demagogias. Gosto de cuidar das pessoas, dessa troca linda que é conhecer o outro, sua vida, suas histórias. Divido dores, multiplico possibilidades, somo conhecimento. Ensino e aprendo na mesma proporção. 

Nada me emociona mais que uma criança epiléptica com suas crises controladas e se desenvolvendo bem, ou um paciente encefalopata que adquiriu a marcha, não importa a idade. Um deficiente incluído com sucesso no mercado de trabalho, independente, produtivo.

Gosto de trabalhar em equipe. Trocar com outros profissionais. Esses ainda mais mal remunerados que nós médicos. E comecei falando na questão financeira, mas isso está longe de ser nosso único problema. Carência de recursos, condições ruins de trabalho, falta de equipe, falta de recursos simples, como uma pia para lavar as mãos entre os atendimentos... E por aí vai.

Sei que sou tão realizada na minha profissão porque fiz escolhas na minha carreira que me afastaram dessa realidade mais cruel, mas nem por isso esqueço como foram os primeiros anos de trabalho e como é a vida de vários colegas que se estressam perdendo vidas à espera de uma vaga em UTI que nunca vem.

Muito se evoluiu na medicina e muita coisa conquistamos, é verdade, mas essas conquistas ainda estão longe da esmagadora maioria dos pacientes. E isso entristece qualquer médico. Saber que poderíamos fazer mais pelo nosso paciente, mas não temos os recursos necessários é uma dura realidade.

Embora pareça pessimista, gosto de utilizar essas datas comemorativas para refletir sobre a situação real. E a realidade tem menos glamour que a comemoração.

Entretanto sou uma grande otimista. Acho que ainda podemos fazer boas escolhas e lutar pela dignidade de uma profissão tão linda, embora desgastada. Uma profissão de amor, de dedicação, de entrega. Não curo muito de meus pacientes, mas tenho certeza que faço tudo que está ao meu alcance para melhorar a qualidade de vida deles, luto pela dignidade e pela inserção das minhas crianças nas suas famílias, na escola, na vida. E cada sorriso, cada vitória é de todos nós e supera toda a dificuldade que enfrentamos diariamente. Só aumenta a motivação para lutar. Para mudar essa realidade.

Finalizando, acho que temos pouco a comemorar neste dia e muito trabalho a fazer. Um trabalho lindo, mágico, especial. E as felicitações que eu receber amanhã, não serão somente minhas, mas também de todas as pessoas que confiam a mim a vida do seu filho. Essas pessoas são parte da minha vida hoje e sempre. Juntos nós fazemos de situações dolorosas, um caminho de lutas e conquistas.

Feliz dia do médico! E dos pacientes! Não somente hoje, mas todos os dias.

Um abraço
Dra Alessandra

Ansiedade na infância: por que nossas crianças sofrem com o amanhã?

Eu acho que a infância é, sem dúvidas, a melhor fase da vida. Onde tudo é lúdico e onde a vida ainda é mais diversão do que obrigação....