Eu já
comentei algumas vezes aqui no blog o quanto chamar a criança de preguiçosa me
deixa entristecida. Crianças com dificuldades, especialmente escolares, tendem
a se esquivar daquilo que não fazem bem. É mais fácil dizer “não quero” do que “não
sei”.
Mas ainda
vejo na minha prática clínica muito, mas MUITO preconceito no tratamento dos
transtornos da aprendizagem. Volta e meia fica aquela pergunta no ar: “Mas
doutora, se ele se esforçar um pouquinho mais, a coisa vai né!”
Então se
adia a terapia de reabilitação, a medicação e consequentemente a boa evolução
do caso. E aí meus amigos, “a coisa” não vai. Ninguém vai deixar de ser
disléxico porque se esforçou mais. É a mesma coisa que você falar para uma
pessoa com miopia tirar os óculos e se esforçar mais para enxergar melhor.
Essa semana
eu revi dois pacientes fofos e queridos que a falta de tratamento levou a piora
na evolução. Transtornos comórbidos como depressão e ansiedade se somam ao
quadro de base por falta de uma intervenção mais adequada. Como eu sempre digo
diagnóstico é ponto de partida. É abrir possibilidades de estimular potenciais para
aproveitar as janelas de oportunidade do neurodesenvolvimento.
Respeitar
os transtornos da aprendizagem, o transtorno do déficit de atenção, a
deficiência intelectual, entre outros, como quadros reais, orgânicos e que
independem da vontade da criança ou do adolescente é dar a eles a chance de uma
vez conhecidas as dificuldades, trabalhar as habilidades e termos a melhor
evolução possível.
Não é
sempre necessário medicar, não é sempre necessário fazer terapia, mas quando
indicamos esses tratamentos é baseado em conhecimento prático e acadêmico de
que o tratamento vai melhorar a vida da criança e consequentemente da família.
E assim
vamos entre vitórias (muitas, ainda bem) e algumas derrotas parciais tentando
vencer o preconceito de se trabalhar com saúde mental.
Um abraço
Dra
Alessandra
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