terça-feira, 27 de setembro de 2011

Uma conversa sobre Crise ou Convulsão Febril


Hoje vamos falar de um evento muito comum na infância e que apesar de apresentar uma boa evolução assusta muito à família – a crise ou convulsão febril.
É a forma mais comum de crise convulsiva ocasional ou provocada na infância, com incidência variando de 2 a 5% em crianças abaixo de 5 anos.
A crise febril ocorre em crianças na faixa etária de 6 meses a 5 anos de idade, neurologicamente normais e na ausência de infecção do sistema nervoso central (SNC).
A crise é caracteristicamente clônica ou tônico-clônica generalizada (aquela em que a criança “se bate”, vira os olhos e eventualmente fica “roxinha”), de curta duração – raramente a duração é maior que 5 minutos, sem déficits após a crise e sempre na presença de febre.
Fatores genéticos são importantes, já que entre 17 e 31% das crianças tem história familiar positiva para crise febril.
A febre responsável pela crise é geralmente alta (acima de 38,5oC) e as crises ocorrem no início do quadro febril.
O risco de recorrência é grande (30 a 35%) e torna-se maior nas seguintes situações:

• crianças cujo primeiro evento foi antes de 1 ano de idade
• história familiar positiva
• crise com temperatura abaixo de 40oC
• dois ou mais episódios de crise febril.
Cerca de 20% das recorrências ocorrem no ano seguinte a primeira crise.
O diagnóstico diferencial inclui infecção primária do SNC ( sendo a obtenção do Liquor – líquido da espinha, obrigatória em crianças fora da faixa etária para crise febril, com crise prolongada ou atípica), encefalite herpética e epilepsia desencadeada por febre.
O tratamento profilático é bastante controverso e, quando indicado pode ser contínuo ou intermitente.
O tratamento contínuo é feito com medicamentos para epilepsia como o fenobarbital ou valproato e o tratamento intermitente é feito com benzodiazepínico via oral ou retal durante o episódio febril.
O tratamento, tanto contínuo quanto intermitente, não previne a ocorrência de epilepsia na evolução, o que é raro.
Sendo a crise febril um evento benigno e com boa evolução na maioria dos pacientes, o tratamento só se justifica nos casos específicos, de acordo com a avaliação do especialista.
O prognóstico da crise febril é usualmente bom, 60-70% das crianças têm apenas um episódio e a maioria dos que recorrem tem 2 ou 3 crises. Somente cerca de 9% dos pacientes têm mais que 3 crises na vida.
Assim, embora seja assustador ver uma criança tendo crise, uma boa avaliação do neuropediatra e uma condução adequada da situação, fará deste evento apenas uma história para se contar no futuro.
Um abraço
Dra Alessandra

domingo, 18 de setembro de 2011

Vamos fazer arte?

Hoje vamos falar de um recurso terapêutico pouco conhecido, porém muito interessante e no qual diversão e reabilitação caminham juntas: a arteterapia!
Arteterapia é o termo que designa a utilização de recursos artísticos em contextos terapêuticos. Esta é uma definição ampla, pois pressupõe que o processo do fazer artístico tem o potencial terapêutico, pois o paciente constrói uma relação que facilita a ampliação da consciência e do auto-conhecimento, possibilitando mudanças.
A arteterapia é um caminho através do qual cada indivíduo pode encontrar possibilidades de expressão para, através de técnicas e materiais artísticos, processar, elaborar e redimensionar suas dificuldades na vida.
(Trechos extraídos de Ciornai, S. "Percursos em Arteterapia", 2004)

A arte é um importante meio de expressão e comunicação. Nela a criança tem oportunidade de desenvolver aspectos físicos, cognitivos, emocionais, a percepção, a imaginação, coordenação viso-motora, a capacidade crítica, a auto estima e ainda ser enriquecedor e prazeroso.
O trabalho de arte-reabilitação tem como principal característica a construção da interface que se estabelece entre o universo da ciência e da arte.
A arteterapia utiliza recursos artísticos com finalidade terapêutica. É indicada para crianças de todas as idades, com diferentes diagnósticos, tais como: paralisia cerebral, deficiência mental e autismo, entre outros.
É explorando o universo da arte, de todas as possibilidades de fazer do processo artístico, que podemos desenvolver a cognição. O contato com diferentes materiais possibilitam novos jeitos de lidar com a deficiência, deixando novas energias fluírem para uma melhor qualidade de vida.
As dificuldades oriundas da deficiência não impedem de trabalhar gradativamente a criatividade de cada paciente através do pintar, desenhar, colar, construir, esculpir, dramatizar, cortar, rasgar, inventar, num contínuo e eterno ciclo.
A utilização de recursos artísticos (pincéis, cores, papéis, argila, cola, figuras, desenhos, recortes) tem como finalidade a mais pura expressão do verdadeiro eu da criança, não se preocupando com a estética, e sim com o conteúdo pessoal implícito em cada criação e explícito como resultado final.
Realizar arteterapia como um aspecto da reabilitação é importante, mas se essa terapia não é disponível onde a criança faz tratamento, brincar em casa com essas possibilidades, estimulando a criatividade com brincadeiras usando massinhas, tintas, desenhos ou outros recursos, além de terapêutico é um momento único de cultivar e aumentar o vínculo com a criança. Aproveitem!!
Um abraço
Dra Alessandra

sábado, 10 de setembro de 2011

A criança preguiçosa


É muito, mas muito frequente no meu dia a dia a queixa de que a criança é preguiçosa. Confesso a vocês que essa é uma frase que me irrita um pouco, especialmente quando a criança em questão tem alguma deficiência.

Eu não sei o que é ter que fazer uma força dobrada ou triplicada para mexer um membro que se recusa a ter qualquer movimento, não sei o que é ter que me movimentar com rodas ao invés de pernas, talvez por isso, eu tenha um respeito e uma admiração por crianças (ou adultos) que dentro de suas limitações, ultrapassam barreiras e façam esses movimentos de forma tão natural que chega a parecer fácil.

Parece, mas não é!

Uma criança com um lado do corpo parético, ou seja, com menos força muscular que o outro, tem dificuldades maiores que o movimento ou a força reduzida. Há alteração de equilíbrio, de balanço do corpo na marcha, de coordenação para a escrita. Enfim, nosso sistema nervoso é uma rede imbricada e complicada de neurônios onde uma alteração dita pequena pode causar dificuldades em várias funções.

Digo isso porque especialmente na infância onde tudo é novidade, onde todos os estímulos são instigantes, a preguiça raramente é uma realidade. Acredito em crianças mal estimuladas, mal recompensadas pelos seus esforços, pouco motivadas, mas não preguiçosas.

Colocar na criança a culpa por determinadas situações é não só injusto, mas cruel.

Estimular adequadamente nossos filhos, recompensá-los com elogios, abraços e carinhos. Viver o mundo deles, valorizando seus problemas e respeitando seus limites é o passo inicial para não termos crianças “preguiçosas”.

A medicina tradicional chinesa tem uma orientação muito interessante que ensina que crianças sem limites são crianças doentes. Portanto dizer não quando necessário com o mesmo amor que se diz um sim, ensinar coisas simples como respeito ao próximo e aos mais velhos é também um ato que previne doenças.

Assim, embora tente fortemente não tirar conclusões precipitadas, quando escuto uma mãe chamar o filho de preguiçoso, a primeira pergunta que passa pela minha cabeça é: quem é o preguiçoso? Criar um filho é uma opção para a vida toda que dá muito, MUITO, trabalho. Trabalho esse que só é comparável à alegria e a plenitude do amor incondicional por um filho.

Vamos refletir sobre isso?

Boa semana
Um abraço
Dra Alessandra

Ansiedade na infância: por que nossas crianças sofrem com o amanhã?

Eu acho que a infância é, sem dúvidas, a melhor fase da vida. Onde tudo é lúdico e onde a vida ainda é mais diversão do que obrigação....