quarta-feira, 26 de abril de 2017

VAMOS BRINCAR?




Essa semana estamos na clínica discutindo o caso de uma criança e traçando objetivos de terapia quando um dos terapeutas fez um comentário que me levou a escrever esse texto.

Ele comentou que vem trabalhando o brincar compartilhado com a criança e integrando os irmãos nessa brincadeira. Esse trabalho vem sendo realizado na residência da família, entretanto foi observado que não havia na casa nenhum brinquedo cooperativo. Toda brincadeira entre os irmãos se dava com o tablet ou com o videogame (onde é sempre um contra o outro).

Neste contexto fiquei refletindo como cobrar amizade e cooperação entre crianças que estão mais habituadas a competir do que a cooperar. E essa é a realidade da maior parte das famílias. Não se brinca mais com jogos de tabuleiro, não se pula corda, elástico, não se joga baralho.

Essas brincadeiras “antigas" e fora de moda nos ensinavam estratégia, parceria, cooperação, além de esperar a nossa vez e respeitar a vez do outro. Isso tudo realizado em família, com o olho no olho e a troca mais que necessária entre familiares.

Claro que não sou contra o videogame ou ao tablet, pelo contrário acho muito válido em alguns momentos, mas não podemos esquecer que é através do brincar que a criança explora o mundo e aprende suas habilidades sociais e que quando feito em família isso tem um papel ainda maior.

Portanto tire a poeira do seu banco imobiliário, do War, ache seus mapas de batalha naval,  resgate aquele tabuleiro de damas / xadrez, brinque muito com seus filhos e seja feliz! 

Um abraço

Dra Alessandra

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Esclarecendo a deficiência intelectual



A Deficiência intelectual (DI) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits em habilidades mentais gerais, como raciocínio, resolução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, julgamento, aprendizado acadêmico, e aprender com experiência. Os déficits resultam em comprometimento funcional, tanto intelectual quanto adaptativo, nos domínios conceitual, social e prático. A adaptação ao ambiente é sempre afetada a atualmente parte dos critérios diagnósticos (DSM - 5, 2013).

As causas podem ser várias, tais como síndromes genéticas, como a Síndrome de Down, a síndrome de Angelman ou a síndrome do X frágil, problemas ao nascimento como falta de oxigênio, entre outras causas.

Para DI, a pontuação para os níveis de desenvolvimento intelectual deve ser determinada com base em todas as informações disponíveis, incluindo os sinais clínicos, o comportamento adaptativo no meio cultural, os resultados individuais e dos testes psicométricos. Para tanto esse diagnóstico deve sempre ser realizado pelo médico juntamente com o psicólogo - de preferência um neuropsicólogo. A testagem formal para quantificação dos aspectos cognitivos só pode ser realizada pelo psicólogo.

Sua presença tem enorme efeito social, não afetando apenas as pessoas que apresentam o diagnóstico, mas também a família e a sociedade como um todo. Sua prevalência é estimada em 1 a 3% nos países desenvolvidos e obviamente é maior em países mais pobres como o nosso.

Para o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5º Ed.) o diagnóstico de Deficiência Intelectual é embasado em três importantes critérios: Critério A: QI- Quoeficiente de Inteligência abaixo de 70; Critério B: Limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança; Critério C: Ocorrer antes dos 18 anos.

Cercada de muito preconceito - a nomenclatura antiga de Retardo Mental criou um grande estigma para o transtorno, a DI geralmente é vista como uma incapacidade para o futuro daquela criança, mas nós sempre insistimos que uma boa avaliação, um diagnóstico e uma intervenção precoces vão dar a essa criança a chance de desenvolver plenamente suas potencialidades, sendo um adulto adaptado e com o melhor rendimento possível dentro das suas possibilidades.
Um abraço
Dra Alessandra

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Dia Mundial de Conscientização do Autismo

Texto da neuropsicóloga Melanie Mendoza com Mitos e Verdades sobre os Transtornos do Espectro do Autismo no site da vivere - www.vivereclinica.com

Hoje é o dia mundial do autismo, para marcar a data fiz uma lista de Mitos e Verdades sobre o tema.

a) Cada criança tem seu tempo.

Parcialmente verdadeiro. Cada criança é única e as habilidades e talentos variam muito  de indivíduo para indivíduo (inclusive dentro de um grupo de adultos, não é mesmo?). Entretanto, existe um intervalo de idade esperado de desenvolvimento para todos áreas: motor (sentar, andar, saltar, etc.), comunicação (balbuciar, pedir colo, apontar, dizer palavras, etc.) e socialização (sorriso social, atenção compartilhada, brincar em parceria e faz de conta). Se uma criança não anda dentro do intervalo esperado ela é avaliada por um neurologista, fisiatra ou ortopedista e encaminhada um fisioterapeuta onde será estimulada e, ainda que a marcha não seja possível (por exemplo em alguns tipos de paralisia cerebral) ela receberá cuidados para evitar problemas como luxação de quadril e osteoporose. Da mesma forma se ela demora a falar, a se comunicar e a sua socialização não ocorre dentro do que seria esperado para a faixa etária ela precisa que um especialista a avalie e faça os melhores encaminhamentos.

b) Na avaliação será dito que ele tem autismo e isso virará um rótulo na vida dele. 

Falso. Não existe um exame laboratorial para diagnóstico de autismo. Na avaliação precoce são observados conjuntos de comportamentos apresentados pela criança que indicam a necessidade de intervenção ou não. Até em torno de trinta meses pela Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS), por exemplo, os resultados são dados em termos de nível de atenção (concern em inglês) após esta idade é levantada uma hipótese diagnóstica (HD) que é, como o nome diz, uma hipótese que pode se concretizar ou não. A HD nos indica, através de todo o corpo de evidências coletados em pesquisas no mundo todo, quais as intervenções que tem maior probabilidade de funcionar e trazer benefícios práticos para a criança.

c) Não se dá diagnóstico antes de três anos.

Parcialmente verdadeiro. Porque crianças até em torno de três anos mudam muito via de regra se aguarda este tempo para levantar uma HD de transtorno do espectro do autismo (TEA), mas em alguns casos os sinais já estão presentes de maneira muito precoce (isolamento intenso, auto-estimulação frequente, falta de contato visual, ações muito repetitivas) e por isso o clínico pode optar por já aventar uma HD  de TEA. Importante: aguardar para dar uma HD não quer dizer adiar a intervenção que deve se iniciar assim que são detectados atrasos.

d) a criança pode virar um robô com as terapias.

Falso. Um pesquisador bem famoso chamado Baron-Cohen diz que para pessoas com TEA “o comportamento das outras pessoas é confuso e imprevisível, e até mesmo, assustador”. Imagine-se em um mundo em que você não entende as ações das outras pessoas - não entendesse porque elas brigam com você, ou se afastam, ou não lhe dão comida quando você está com fome, ou te coloquem em uma sala barulhenta. Depois imagine que você tem a chance de ter um amigo adulto que você vê com frequência que tem ensina um “truque” para sua mãe lhe dar comida quando você está com fome, que o barulho passa rápido e que depois vem parquinho, que falar “quer brincar comigo com o meu caminhão?” tem maiores chances de funcionar do que puxar o amiguinho pelo braço e deixá-lo sentado. Este amigo é o terapeuta.
Nos indivíduos com TEA o aprendizado, que para os outros indivíduos é intuitivo, deve ser ensinado de maneira mais organizada e estruturada (da mesma forma que aprendemos coisas que não costumam ser intuitivas como dirigir, fazer contas de divisão de dois algarismos ou a utilizar a nossa primeira impressora multifuncional) e porque é um aprendizado não intuitivo a fala pode parecer um pouco “robotizada” e a brincadeira meio “durinha”, mas como nos comportaríamos se tivéssemos tido aula de boas maneiras para estrangeiros em um país que nos fosse exótico? Indivíduos com TEA precisam com alguém como agir no meio desta confusão que chamamos de relação com as outras pessoas ou de outra forma precisarão organizar seu próprio sistema baseado em tentativa e erro.

e) A terapia comportamental é um adestramento.

Falso. A terapia comportamental analisa o porquê de um comportamento ocorrer. Ao invés de punir a criança com algo que ela fez de errado porque queria alguma coisa, os terapeutas ensinam uma forma de conseguir o que ela precisa sem burlar regras de nosso sistema interpessoal. É uma forma de terapia humanizada que prega a individualidade de cada criança e seu nível de desenvolvimento. Os terapeutas precisam ser profundamente sensíveis em empáticos para entender o que a criança deseja e ao mesmo tempo ter altas doses de auto-controle para não ceder nos momentos inapropriados. A afirmação de que é um adestramento é feito por pessoas que - na melhor das hipóteses- desconhecem os pressupostos teóricos e ou – na pior das hipóteses – possuem conflito de interesse de econômico.

f) São necessárias muitas horas de terapia.

Parcialmente verdadeiro. Para crianças pequenas cujo cérebro está no momento  mais acelerado de desenvolvimento de novas sinapses, um grande número de horas em terapias multidisciplinares – ABA, fono e TO - costuma ser indicado. No entanto, este não é uma panaceia e nem o único caminho. Existem pequenos clientinhos em que, após a avaliação, o plano de tratamento indicado pode ser a entrada ou mudança de escola, mais horas de brincadeira e interação com um adulto ou diminuir o tempo no aparelhos eletrônicos.

g ) A criança pode sair do espectro.

Verdadeiro. O diagnóstico de autismo é baseado em uma série de sinais e sintomas, uma vez que através de estimulação estes sinais e sintomas desaparecem em algumas pessoinhas, não é mais possível diagnosticar o quadro. Não existe uma “cura” mas um abrandamento tão grande dos prejuízos que eles não são mais detectáveis através de escalas ou avaliação clínica.
Eu desejo a todos um ótimo 2 de abril !!!

Um forte abraço,
Melanie

Ansiedade na infância: por que nossas crianças sofrem com o amanhã?

Eu acho que a infância é, sem dúvidas, a melhor fase da vida. Onde tudo é lúdico e onde a vida ainda é mais diversão do que obrigação....