Novo texto da Neuropsicóloga Melanie Mendoza
Hoje
gostaria de escrever sobre tempo. Tempo para quem tem uma criança especial é
algo raro, curto e precioso.
Raro
porque quase nunca vejo pais ou mães dizendo que tiraram um tempinho para si ou
que tem uma “folguinha” de vez em quando.
Curto
porque os afazeres são muitos. Os afazeres da vida, do trabalho, da casa e,
claro, com o filho. Crianças podem trazer alegria e prazer, mas dão trabalho. E
como dão trabalho. Crianças com deficiência mais ainda: ajudar os filhos em
diferentes tarefas, levar à(s) terapia(s), estimular e ensinar atividades -
treino de atividades de vida diária, andador, fala, comunicação….
Precioso
porque nós profissionais sempre falamos de diagnóstico precoce, estimulação
precoce, “quanto antes melhor”, neuroplasticidade, janela de desenvolvimento,
etc.
Tudo
isso é verdade, mas gostaria de convidá-los à pensar nas outras situações em
que a calma e a espera também são altamente
terapêuticos.
Agora
vocês devem estar pensando, lá vem de novo uma psicóloga dizer que eu preciso
tirar um tempo pra mim. Sim, você deve, porém não é desse tempo que eu quero
falar.
Quero
falar do tempo para esperar pelo seu filho.
De
acordo com o dicionário Houaiss eficiente é aquilo “que obtém resultados
efetivos com o mínimo de perdas, erros, dispêndios, tempo etc. no seu trabalho,
numa tarefa ou na consecução de um fim”. Como o próprio termo diz,
uma criança na sua deficiência não é eficiente. Ela, ao realizar uma tarefa que
requeira as habilidades que estão prejudicadas por sua condição, demora,
calcula e, muitas vezes, erra antes de acertar. E não raro o acerto pode ser
considerado apenas parcial por um juiz mais exigente.
Vejo
muitos pais, mães e avós, cuidadosos e empenhados, mas que em sua roda-viva
cotidiana, não esperam por suas crianças. As frases mais comuns são:
-“Ele
demora muito pra comer então eu dou na boca.”
-“Ela
demora muito pra andar com o andador então eu carrego no colo.”
-“Ele
se atrapalha para se vestir, então de manhã eu coloco a roupa.”
-“Ela
anda devagar então eu acho mais fácil levar no carrinho quando a gente sai.”
-“Ele
se suja todo com o copo (ou a colher) por isso eu dou a mamadeira.”
Sonhamos
com uma sociedade inclusiva que tenha respeito pelas diferenças, mas temos
dificuldade de incluir essas diferenças de eficiência no nosso tempo, dando
oportunidade para que as crianças – especiais ou não- realizem uma tarefa no
seu ritmo, errando e tentando de novo.
Se
elas aprenderem que completar uma atividade no tempo possível e não no tempo
desejado é um direito e um motivo de orgulho, elas serão mais capazes de
lutar por este direito quando for
necessário.
Crianças
precisam sentir que mesmo “ineficientes” nós estaremos lá, esperando por elas.
E que isso não vai causar um transtorno no nosso dia. Pequenas realizações da infância nos ajudam a
construir uma autoimagem positiva e nos fornecem confiança para futuras
realizações.
Quem
sabe da próxima vez que houver um compromisso dê para você incluir uns minutos
extras para o seu pimpolho praticar ser independente.
Um abraço
Melanie