Pouco tempo
atrás atendi a uma menina que me tocou muito. Aos seis
anos, ela tem uma condição chamada mielomenigocele (vide texto da Melanie
Mendoza no blog), uma mal formação da medula espinhal e da coluna vertebral,
associada a um quadro de epilepsia com bom controle com medicação.
Restrita a
cadeira de rodas, ela é uma menina muito inteligente e funcional. Alegre,
falante, bem articulada, ela é a sensação da escola.
Ao
perguntar o que ela mais gosta de fazer, ela me respondeu que é dançar ballet.
Eu então perguntei como ela dança e ela com aquela espontaneidade própria das crianças
me disse: "Assim tia!" E girou forte a cadeira de rodas levantando os braços em
posição de bailarina, com o rosto virado de lado e um grande sorriso.
Confesso
que a cena me emocionou muito. Descrevendo assim, é difícil imaginar a beleza e
a pureza do momento. Essa alegria, essa felicidade genuína são características
marcantes da infância, onde o preconceito e a cobrança excessiva ainda não
fizeram o estrago que fazem na vida dos adultos. Uma fase bela, onde ainda
acreditamos fortemente que podemos ser aquilo que queremos.
Esse evento
me fez refletir sobre o que nos define. Há muitos anos atrás uma amiga médica,
que tem epilepsia, me disse que essa situação nunca a definiu. Que a vida dela
foi sempre permeada pela certeza de ser mais e maior que isso. Que ter
epilepsia era um pedaço pequeno da vida dela, mas que o que ela tinha a
oferecer ao mundo era infinitamente melhor do que uma dúzia de crises.
Obviamente
isso requer muita força interior. Nosso mundo nos julga por critérios muito
rígidos de aparência e normalidade e qualquer coisa que fuja desse padrão é
vista com desconfiança. O preconceito que permeia a epilepsia, a deficiência
física, sensorial e intelectual, parece querer reduzir as pessoas a meros
representantes de sua condição patológica.
Mas pensando
na minha pequena paciente, consigo ver claramente essas palavras. Ela não se
deixa definir por aquilo que não pode fazer. É maior que sua deficiência. Não é
a menina na cadeira de rodas e sim a menina que dança.
Diariamente tenho esses
exemplos. Crianças e adolescentes que não se deixam definir pelos seus
diagnósticos. O diagnóstico é parte da sua vida e não ela inteira. Seus pais
são indivíduos completos e não a “mãezinha” da criança com autismo ou paralisia
cerebral. Muitos vem conseguindo vencer esse preconceito com leveza e grandeza
de espírito.
Costumo
enfatizar que o diagnóstico não é um rótulo que define as pessoas e sim um
ponto de partida para alcançar todas as potencialidades possíveis. Vamos olhar
o mundo dessa forma? Vamos nos encarar desta forma?
E você? O
que te define? Pense grande. Sonhe alto. Defina sua vida pelas suas melhores
características. Seja leve. E seja feliz.
Boa semana. Um abraço.
Dra Alessandra
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Dúvidas, sugestões, comentários? Me escreva!!!