terça-feira, 30 de novembro de 2010

Diagnóstico e prognóstico

Sim,quanto nome difícil!!! Palavras que despejamos no dia a dia para nossos pacientes e seus familiares na expectativa de ajudá-los a lidar com o inesperado. Porque nenhum pai, mãe ou avós acha que seu filho ou neto terá uma doença. E se ela é neurológica então... pior ainda.

Diagnóstico é o nome da doença ou situação clínica que o indíviduo tem. Paralisia cerebral, autismo, síndrome de Down, epilepsia, enxaqueca são alguns exemplos de diagnóstico. Porém em alguns casos, como a epilepsia por exemplo, esse diagnóstico pode ter uma causa, uma etiologia, como a própria paralisia cerebral.

Em alguns pacientes essa busca não é fácil e nos desgastamos junto à família para dar um nome à situação, pois como nos fala poeticamente a Adriana Ueda do blog Síndrome de Angelman (vide meus blogs prediletos): “E mesmo que a medicação não mude, ou que as terapias e tratamento continuem sendo os mesmos, a impressão que temos ao ter um nome para o problema é que uma página foi virada e podemos começar um novo capítulo. E com um diagnóstico, é como se estivéssemos flutuando, a deriva, e de repente chegássemos numa ilha - e por mais inóspita e desconhecida que seja, pelo menos estamos em terra firme.”


O diagnóstico nos abre as portas para o passo seguinte: o prognóstico. Prognóstico é a leitura que o médico faz, baseado no diagnóstico, de como aquela doença e aquele paciente vão evoluir. E embora, isso não seja uma previsão do futuro, saber o nome da doença nos dá uma boa idéia de sua evolução.

Por isso é tão importante uma boa investigação diagnóstica, e mais ainda, é importante que os familiares saibam qual o diagnóstico da criança e caso ainda não haja um, quais as suspeitas do médico.

Pergunte, peça laudos por escrito, se não entendeu as palavras, não tenha vergonha, pergunte novamente até entender. Mais que um direito, é um dever dos familiares saber o que acontece com sua criança.

Boa semana
Um abraço
Dra Alessandra

terça-feira, 23 de novembro de 2010

TDAH - Dicas

Finalizando os texto sobre TDAH, vou aqui dar algumas dica de manejo, porém esse texto não tem a função de ensinar com “receita de bolo” a lidar com uma criança que apresenta o TDAH. A intenção é dar algumas dicas simples que ajudam pais e professores, mas principalmente a criança que é nosso principal foco.

Porém a grande dica é que bom senso e amor fazem toda a diferença para qualquer criança. Entender que o indívio com o transtorno não faz de propósito “só para irritar” já é um grande passo para olha-lo com tolerância.

Vamos as dicas:

. Um ambiente muito bem estruturado ajuda a criança a ordenar-se.

· Favorecer ambientes onde tenha a menor distração possível. Na escola, sentar longe de portas e janelas. Em casa, ter um ambiente próprio para o estudo.

· Supervisionar pessoalmente as tarefas.

. Manter agenda, que deve ser vista pelos pais e professores diariamente.

· Estabelecer um tempo extra e fixo para que copie seu trabalho, lembrando que quando o tempo se esgotar deve parar e não deixar passar do limite.

· Fracionar as tarefas em intervalos curtos de tempo, com descansos entre uma e outra.

· Usar ajudas visuais como imagens em livros, em quadros, ou favorecer a aprendizagem por computador, para manter-lhe a atenção.

· Ser positivo e gratificante com cada sucesso cotidiano por menor que seja, para estimular o esforço em manter a atenção e reduzir o estado de frustração e cansaço – REFORÇO POSITIVO.

. Dar instruções curtas e objetivas.

. Manter rotina.

. Ser homogeneo nas instruções e repreensões ( o NÃO da mãe, deve ser do pai, avós, etc)

E ACIMA DE TUDO, ACREDITAR!!! Acredite , invista e aposte no seu filho. Seja presente, dedicado, amoroso. Brinque com ele, tenha um tempo com ele. Torne sua casa um lugar de harmonia.

Um abraço
Dra Alessandra

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Ele é tudo de ruim"

Atendi um menino semana passada, com 10 anos e um quadro comportamental importante. J. se recusa a ir à escola. E como já é um rapazinho, simplesmente não vai. Se joga no chão, grita, bate, enfim, não vai há 2 meses na aula.

Ele passou em triagem comigo e com a psicologia, e ainda que numa observação mais superficial, nós não fechamos qualquer diagnóstico neurológico ou psicológico.

A situação familiar é extremamente conturbada e a mãe não oferece o suporte necessário. Ele já passou em vários tratamentos, mas nenhum é levado com seriedade.

Durate a avaliação, pergunto como ele é em casa e lá vem uma chuva de queixas e acusações: J. é agressivo, desobediente, bate na mãe, é insuportável, etc, etc, etc. Eu já meio sem jeito fiquei observando J. sentadinho na cadeira ouvindo a mãe dizer tudo isso dele, mas a psicólogca foi além e perguntou o que ele fazia de bom e a mãe tranquilamente respondeu: - Nada, esse menino é tudo de ruim!!!

Como assim?? Eu quase cai da cadeira! Como uma mãe fala na frente do filho que ele é tudo de ruim? Ela estava nos dizendo que recebeu uma criança pura e fresca, e em 10 anos de convivência, não conseguiu despertar nada de bom nele. Essa é a nossa responsabilidade como pais.

É claro que naquele momento não pontuamos nada com a mãe, pois ela não tinha condições de nos ouvir, mas fui para casa refletindo como às vezes, a criança é tratada como o problema e na verdade é a grande vítima da situação.

Uma palavra tem poder. Se você fala para o seu filho que ele é tudo de ruim, com certeza ele vai ser, pois essa é a expectativa que você joga nele. E se perto do profissional foi assim, fico imaginando em casa como deve ser.

E assim, uma criança normal, é rotulada de problemática, recebe uma pilha de encaminhamentos – ao neuro, ao psiquiatra, ao psicólogo – enfim, uma iatrogenia.

O que ficou disso foi uma avaliação de ambos pela psicóloga, uma avaliação neurológica para a criança e a certeza de que aquela criança sofre.

Minha grande briga com parte das mães dos meus pacientes é exatamente essa. Criança tem que ser criada com amor, com carinho e com limite, sabendo que alguém a ama incondicionalmente e que estará lá para suportá-la. E isso, não há remédio no mundo que substitua.

Boa semana
Um abraço
Dra Alessandra

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Congresso SBNI 2010

Semana passada, dias 11, 12 e 13, fui ao Congresso da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI). É o congresso nacional da especialidade, com temas atuais, convidados estrangeiros e toda a “trupe” de neuropediatras do Brasil.

Bom para rever os amigos e para nos atualizarmos com o que há de mais novo na especialidade.

O pré-congresso ocorreu no dia 11 e foi sobre as fronteiras da neuro com a psiquiatria. Um dia muitíssimo interessante, com discussão de duas especialidades afins, que abordaram temas como o TDAH, autismo, novas medicações que chegarão ao mercado (especialmente para o TDAH), novidades no campo da genética para as patologias psiquiátricas e uma boa discussão sobre um sintoma muito frequente na prática clínica, a irritabilidade!


Enfim, um dia cheio e bastante produtivo. Chamo a atenção para as palestars do Dr Luiz Augusto Rodhe de Porto Alegre e do Dr Guilherme Polanczyk, um gaúcho que atualmente está em SP, ambos psiquiatras da infância.

O congresso propiramente ditoa foi nos dias 12 e 13 e o tema foi: Neuroimunologia!

Uma série de doenças não muito frequentes, porém importantes na prática clínica, pela possibilidade de tratamento e pela diferença que faz no prognóstico final do evento a velocidade do diagnóstico e da instituição do tratamento.

O simpósio sobre Doença de Niemann-Pick tipo III foi excelente, tanto para o alerta para o diagnóstico precoce, quanto pela possibilidade de tratamento medicamentoso, com bons resultados. Essa é uma doença neurodegenerativa e para a qual, até pouco tempo atrás não existia tratamento.

O dia terminou com a palestra, brilhante como sempre, da Dra Elza Márcia Yacubian, que falou sobre os efeitos colaterais das medicações anti-epilépticas.

O último dia do congresso foi marcado por um simpósio interessantíssimo, conduzido pelo Dr André Palmini, que falou da comorbidade frequente entre epilepsia e TDAH. Com espaço para discussão e opiniões diversas dos colegas, foi um momento enriquecedor do congresso.

Enfim, um feriado muito produtivo de estudo e descontração. Volto nova e cheia de idéias para o trabalho!


Um abraço
Dra Alessandra

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Uma sexta-feira difícil

Eu trabalho na APAE – Cotia há cerca de 4 anos e lá temos um programa específico de atendimento ao autista.

O autismo é um distúrbio de desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias múltiplas e graus variados de gravidade. Nesta situação, o contato social e a fala são mais prejudicados. Em breve falaremos mais sobre o assunto.

Pois bem, há 2 semanas iniciamos as reavaliações dos alunos deste programa e essa sexta-feira foi especialmente mais difícil.

Mães com muitas dificuldades de manejo do quadro, chorando na consulta, com dúvidas importantes sobre seus filhos e com situações, que infelizmente, são fruto de uma abordagem equivocada por parte da família.

As pessoas acham que quando orientamos não deixar uma criança tirar a roupa, ensiná-la a não bater e a comer na mesa, colocar regras e ensinar a criança a segui-las, é só porque é “legal”.

O que não se entende, às vezes, é que um menininho de 4 anos tirando a roupa é engraçadinho, mas aos 20 anos já não é. E aí, como tirar um comportamento de 15, 16 anos de evolução?

Nós nos condoemos pela situaçao das mães, mas nessa idade, já não temos tantos recursos à oferecer. Eu sempre acredtio que há como melhorar, mas convenhamos não é como na infância.

Só nos resta, então, acolher essas famílias, ouvi-las, mostrar que sabemos que elas estão fazendo seu melhor e trabalhar com os pacientes o máximo possível de habilidades.

Nosso programa visa o atendimento clínico e pedagógico dessas crianças e adolescentes dando condições para que possam desenvolver suas habilidades, bem estar emocional e seu equilíbrio pessoal.

Porém trabalhamos com recursos pequenos, em meio período, pois não temos espaço físico para período integral e atualmente não temos vaga, pois são indivíduos que raramente damos alta e não acredito no trabalho com autista em turmas com mais de 4 alunos.

Temos conseguido bons resultados, especialmente no treino de habilidades de vida diária e na orientação familiar, mas quando pegamos um dia inteiro só avaliando os casos mais gravemente acometidos, eu me pergunto o que mais fazer! Mas aí, olho meus meninos entrando na escola, comendo sozinhos, escovando os dentes e olhando (ainda que brevemente) nos meus olhos e sinto que devemos respeitar o tempo deles, reestruturar as nossas expectativas e ter um pouco de paciência, porque cada conquista por menor que seja, vale todo o trabalho.

Um abraço
Dra Alessandra

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

APRENDIZAGEM

Já que estamos falando de aprendizagem, selecionei para vocês um texto das minhas amigas Melanie e Carolina, do laboratório onde desenvolvo meu projeto de doutorado.
Vale a pena ler o texto a seguir:

APRENDIZAGEM



Melanie Mendoza* e Carolina R. Padovani**



Aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido através da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente. É um processo contínuo, que sofre alterações na velocidade e na qualidade do que é aprendido conforme a idade e nível de desenvolvimento, isso acontece porque o sistema nervoso - órgão responsável pela aprendizagem - termina seu amadurecimento apenas no fim da adolescência e sofre contínuas alterações pelo ambiente por toda a vida.

Com o passar do tempo, a criança demonstra de maneira mais evidente o que aprende.

Como você viu na aula sobre desenvolvimento, a criança começa sorrindo, brincando com as mãos, olhando para alguns objetos e assim por diante, até ser capaz, mais tarde, de elaborar teorias sobre o mundo físico e social, além de sistemas de valores e crenças individuais.

Durante o processo de aprendizagem e desenvolvimento a criança opera sobre todos os dados recebidos do ambiente e atribui significados a eles - tanto pessoais, quanto da cultura em que está inserida. A aprendizagem, não é um processo limitado à atenção e ao esforço, depende também de estímulos ambientais, de características orgânicas e motivacionais de cada pessoa.

O aprender amplia-se com o passar do tempo juntamente com o aumento da capacidade de abstração da criança e com o transcorrer da idade.

A aprendizagem é muito mais do que memorizar e copiar os estímulos recebidos. É um processo ativo englobando outras atividades, como:

1) Organizar a nova informação;

2) Comparar e integrar com o que já se conhece;

3) Guardar na memória;

4) Lembrar sempre que necessário.



Lembre-se: O bom aprendiz não é alguém com uma memória privilegiada ou um bom copista, mas alguém que consegue manipular a informação de maneira inteligente e flexível.



i) OS PRIMEIROS ANOS



Nos primeiros anos de vida, aprendizagem e desenvolvimento se confundem, isso acontece porque o sistema nervoso da criança - imaturo ao nascer- prossegue evoluindo por toda a infância e adolescência, isso se reflete sobre seus comportamentos e sua maneira de compreender o mundo.

A capacidade que a criança de compreender o mundo que a rodeia é um reflexo da interação do meio - que a estimula - e de processos neurológicos que ocorrem durante o crescimento. Assim, a criança aprende coisas sobre si mesma e sobre o ambiente à medida que informações novas chegam e apresentam "problemas" para que ela resolva, estimulando assim sua inteligência e amadurecimento.



Lembre-se: A criança aprende porque o meio provê estímulos para ela e porque suas estruturas cerebrais permitem. Portanto é importante estimular, mas sem esquecer de respeitar o tempo dela.



Normalmente antes de entrar na escola, a criança já é capaz de:

1) Nomear coisas

2) Diferenciar classes de animais e objetos

3) O que é certo e errado em casa e no seu grupo de amigos

4) Leis físicas como gravidade, calor e movimento

5) Antecipar algumas reações das outras pessoas e elaborar uma teoria sobre como elas

estão se sentindo ou pensando.

6) Encontrar modos de conseguir o que quer.



Você pode ajudar nesse processo através de brincadeiras. Durante a infância a criança aprende brincando, literalmente. Respeitar esse direito é fundamental para que seu filho se desenvolva afetiva e cognitivamente.

Como dissemos na aula sobre "ser pai", os momentos de intimidade entre pais e filhos são fundamentais para os dois, estes podem ocorrer de maneira prazerosa em torno de um jogo ou de uma brincadeira.

Mas em um mundo tão cheio de propagandas voltadas para as crianças, quais são os brinquedos mais adequados para as elas?

Certamente os brinquedos não precisam ser caros ou sofisticados, os brinquedos mais adequados para promover a aprendizagem são justamente aqueles simples e que são utilizados há muitas gerações.

De acordo com a idade os brinquedos devem trabalhar:

4 a 7 anos: motricidade, os limites das artes gráficas, diferenças sexuais, sociabilidade. Tipos de brinquedos: construtivos, agressivos e optativos.

7 a 9 anos: sexualidade, sociabilidade, limites. Tipos de brinquedos: construtivos e principalmente optativos.

9 a 11 anos: sexualidade (identificação), formação de grupos sociais. Tipos de brinquedos: jogos.



De acordo com o tipo podemos classificar:

-dramáticos: bonecos (bebês, adultos, velhos), famílias (pano e plástico), copos, pratos, panelinhas, sucatas, caminhões, carrinhos, aviões, motos, etc - animais (selvagens e domésticos)

-regressivos: massa modelar, tintas, balde, água, areia, barro

-construtivos: jogos, formas e blocos, papel (branco e colorido), canetas, lápis, canetinhas, lápis de cor, pincéis e tintas, tesoura, barbante, cola, palitos,tampinhas,plásticos e panos,montagens

-agressivos: revólver, espada, bola (pequena, média, grande), arco e flecha

-optativos: jogos, fio e agulha, vela e fósforo



ii) NA ESCOLA



Lembre-se: Cada criança é um indivíduo único e tem seu próprio tempo para aprender cada coisa, nem todas as crianças entram na escola sabendo as mesmas coisas!



Ir a escola pela primeira ver, ou mesmo retornar de férias à escola, pode trazer uma situação muito delicada e barulhenta. A criança pode começar a chorar, gritar e se desesperar e esse comportamento pode gerar muita angústia e sofrimento aos pais.

A criança tem essa reação porque ainda não consegue fazer uma projeção do tempo e por isso não entende que ficará apenas algumas horas ali e logo poderá ver seus pais. Na hora da separação acaba se comportando como se fosse uma despedida definitiva. Assim, os pais devem estar bem seguros sobre o momento de colocar seu filho na escola e que a escola escolhida cuidará bem da criança, mesmo que ela esteja chorando e não tenha vontade de ficar lá.

Mesmo que a criança tenha dado um pouco de trabalho para ir a escola, os pais devem demonstrar carinho e afeto, não brigar e exigir que a criança goste rapidamente de ir a escola. A educação familiar é fundamental, pois são os pais que ensinarão ao filho humano os valores culturais e morais, por isso devem sempre que possível mostrar o quanto é importante aprender e desenvolver o gosto pelo conhecimento. Também quando a vida escolar se inicia a convivência entre pais e filhos pode ser usufruída. Pergunte ao seu filho como foi o dia na escola, o que ele aprendeu de novo, demonstre interesse na vida escolar da criança isso ajudará para que ela aprenda a importância de ir à escola e de se dedicar aos estudos.

Escolher a escola não é uma tarefa fácil. A melhor escola é aquela que está em sintonia com os valores e hábitos dos pais. Dessa maneira o diálogo entre pais e escola também é facilitado.

Depois de passar pela escolha da escola, o primeiro dia de aula os pais ainda devem continuar seu trabalho como educadores. Acompanhar a vida escolar de seu filho não é apenas um direito, é um dever já que a criança raramente irá fazer as tarefas de casa por conta própria, mas não faça o dever pelo seu filho. Valorize as conquistas do seu filho, faça elogios quando ele for bem em provas, receber um elogio da professora. É sempre mais importante dar atenção antes de mimos!

Os filhos imitam os costumes dos pais, o melhor ensinamento vem do exemplo. Assim, evite mentiras, gritos e ou dar recompensas arbitrárias seu filho para fazer tarefas e estudar. Paciência é uma das maiores virtudes de um bom educador, ser pai realmente não é tarefa fácil, mas tenha paciência quando seu filho não quiser fazer o dever de casa.

Outra coisa que deve ser lembrada: irmãos são diferentes, por isso evite estereótipos e comparações. Faça elogios e valorize o que cada criança tem de melhor. Elogias e valorizar não significa ser amigo de seus filhos, quando eles fizerem algo de errado exerça sua autoridade, isso não significa bater ou ser muito violento, mas sim impor limites à criança. Nunca sobreponha amizade à responsabilidade e autoridade, você deve ser pai (ou mãe) de seu filho e não um amigo que permite tudo.

O mercado de trabalho tem se tornado competitivo e por isso os pais acham que colocando seus filhos em vários cursos como: inglês, natação e outras atividades, estarão preparando melhor a criança para o futuro. Cuidado! Excesso de atividades pode acabar reduzindo o desempenho. Mesmo depois da primeira infância a brincadeira com os amigos e com os pais é uma forma de aprendizado importante para a criança.



iii) PROBLEMAS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM



O problema de aprendizagem é uma perturbação ou falha na aquisição e utilização de informações ou na habilidade para solução de problemas. Geralmente, essas dificuldades tornam-se mais aparentes quando a criança entra na escola, pois os conteúdos ficam mais complexos, além disso, em um grupo maior de crianças é possível fazer comparações entre a mesma faixa etária e perceber se alguma apresenta dificuldades que as demais do grupo não possuem.

Para que a criança aprenda devem estar presentes condições para que isso ocorra de maneira satisfatória. Podemos dividir essas condições em três grupos:

1) Funções psicodinâmicas: deve haver integridade psíquica e emocional para que a criança aprenda. Criança sob forte stress em casa ou na escola pode apresentar dificuldade de assimilar o que lhe é ensinado.

2) Funções do sistema nervoso periférico: Uma criança com problemas de visão ou audição recebe menos informações ambientais. Se ela não for atendida em suas necessidades pode não aprender adequadamente os conteúdos apresentados na escola ou mesmo fora dela.

3) Funções do sistema nervoso central: O cérebro é o responsável pelo armazenamento, elaboração e processamento da informação. Uma pequena parcela das dificuldades de aprendizagem pode ser resultante de problemas nos processos cerebrais, o que exige investigação cuidadosa de um profissional.



As dificuldades no aprender podem, portanto, ser causadas pela ausência de uma das condições mencionadas acima. Eventualmente o problema em um nível pode trazer problemas em outro nível. Por exemplo: uma criança que enxerga mal e não usa óculos (grupo 1) pode ter seu desempenho prejudicado e se sentir excluída no ambiente escolar (grupo 2).



TIPOS DE PROBLEMAS:



a) Leitura

Os problemas específicos de aprendizagem mais comuns são os distúrbios de leitura - dislexia -, pois envolvem uma série de processos cognitivos. Para ler um texto escrito precisamos:

1) Ter atenção dirigida e controlar os movimentos dos olhos pela página

2) Reconhecer os sons associados com as letras

3) Entender as palavras e a gramática

4) Construir idéias e imagens

5) Comparar as idéias novas com as que você já tem

6) Armazenar idéias na memória.



Você pode detectar algum dos sinais de dislexia em casa, observando, por exemplo, se o seu filho apresenta:

1) Atraso na leitura de dois ou mais anos com relação às crianças da mesma idade

2) Velocidade na leitura é inferior a 50/60 palavras por minuto.

3) Erros freqüentes na leitura (omissões, substituições, inversões de fonemas - vogais e consoantes sonoras)

4) Não diferencia adequadamente os lados direito e esquerdo

5) Ver outros sinais considerados importantes



b) Escrita: habilidade escrita abaixo do nível esperado - disgrafia - para idade, inteligência e escolaridade.



c) Cálculo: dificuldade nos procedimentos de cálculos iniciais - discalculia -, envolvendo estratégias de contagem para resolução de problemas aritméticos de adição e subtração.



Se a criança apresenta alguma dificuldade de aprendizagem ela deve ser examinada por um profissional - psiquiatra infantil, psicólogo, psicopedagogo - que fará uma avaliação do problema e o encaminhamento adequado.

Durante essa avaliação, o profissional irá realizar uma série de investigações em vários níveis:

1) Avaliação psicopedagógica: Observa-se a escola e o método pedagógico avaliando se é adequado e se não existem fatores emocionais e motivacionais dificultando a aprendizagem.

2) Avaliação neuropsicológica: são investigadas as funções de atenção, memória, habilidades motoras, linguagem, leitura, escrita, aritmética, percepções visuais, auditivas e sinestésicas, função intelectual e aspectos emocionais.

3) Testes psicológicos.



Lembre-se: O acompanhamento atento e cuidadoso dos pais é sempre o melhor meio de detectar precocemente dificuldades escolares.





Referências:



Pereira, E. P. Projeto Brinquedoteca na Universidade Federal do Paraná: Relato da Experiência disponível em < http://www.eci.ufmg.br/gebe/downloads/114.pdf>

Ciasca, S. M. (org.) Distúrbios de Aprendizagem: Proposta de Avaliação Multidisciplinar, Casa do Psicólogo, 2003



*Graduanda em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP

**Psicóloga. Mestranda do Instituto de Psicologia da USP

Projeto Distúrbios do Desenvolvimento do Laboratório de Saúde Mental do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP)

Site do PDD: http://disturbiosdodesenvolvimento.yolasite.com

Artigo disponível em:

http://www.psiquiatriainfantil.com.br/biblioteca_de_pais_ver.asp?codigo=52

TDAH - CONTINUAÇÃO

Conforme falamos semana passada, o diagnóstico de TDAH pode ser difícil, pois os sintomas demonstrados pelos pacientes podem ocorrer não só devido ao TDAH, como também a uma série de condições neurológicas, psiquiátricas, psicológicas e sociais.

Normalmente o diagnóstico começa pela eliminação de outras patologias ou problemas sócio/ambientais, possivelmente causadoras dos sintomas. Além disso, os sintomas devem, obrigatoriamente, trazer algum impacto na vida da criança.

A idade e a forma do surgimento dos sintomas também são importantes, devendo ser investigados, já que no TDAH, a maioria dos sintomas está presente na vida da pessoa normalmente desde a infância. Portanto, por se tratar de um transtorno crônico, os sintomas de dificuldade de atenção/concentração ou hiperatividade semelhantes ao TDAH mas que apareçam de repente, de uma hora para outra, tem uma grande possibilidade de NÃO ser TDAH.

Para que se considere o diagnóstico de TDAH, os sintomas devem se manifestar em vários ambientes (escola, casa, viagens, etc..). Os sintomas que só aparecem em um ambiente, como por exemplo, só em casa, só na escola, só quando sai de casa... etc., devem ser investigados com mais cuidado.

Muitas vezes os professores são os primeiros a detectar o problema, já que podem comparar a conduta entre crianças da mesma idade. Quando se suspeita que a criança possa estar sofrendo deste transtorno, deve-se realizar uma consulta com um profissional especializado.

O plano terapêutico se baseia fundamentalmente em três premissas:

1. Adequação das opções educativas

2. PsicoterapiaAtualmente se tem provado maior efetividade com o uso de terapias do tipo cognitivo- comportamental.

3. Tratamento farmacológico

Os fármacos chamados psicoestimulantes, como por exemplo o metilfenidato (Ritalina®; Concerta®) tem permitido, junto com a psicoterapia, melhorar o prognóstico e a qualidade de vida dessas crianças. O médico especialista pode utilizar outras medicações, como por exemplo, os antidepressivos. Devem realizar-se controles periódicos, valorizando entre outros, o apetite, o crescimento e o sono, que são os problemas mais freqüentes que se associam ao uso desses medicamentos.É natural que exista certa preocupação por parte dos pais em usar os fármacos por tanto tempo mas, devem sempre ser avaliados os riscos e benefícios do tratamento, juntamente com a qualidade social e escolar da criança.

Embora o TDAH seja uma entidade bem conhecida e estudada no meio médico, ainda causa muitas dúvidas na população geral. Vamos continuar tratando deste tema nos próximos posts e eu sugiro o livro “No mundo da lua” do Dr Paulo Mattos como um bom início.

Um abraço
Dra Alessandra

Ansiedade na infância: por que nossas crianças sofrem com o amanhã?

Eu acho que a infância é, sem dúvidas, a melhor fase da vida. Onde tudo é lúdico e onde a vida ainda é mais diversão do que obrigação....