segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Uma sexta-feira difícil

Eu trabalho na APAE – Cotia há cerca de 4 anos e lá temos um programa específico de atendimento ao autista.

O autismo é um distúrbio de desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias múltiplas e graus variados de gravidade. Nesta situação, o contato social e a fala são mais prejudicados. Em breve falaremos mais sobre o assunto.

Pois bem, há 2 semanas iniciamos as reavaliações dos alunos deste programa e essa sexta-feira foi especialmente mais difícil.

Mães com muitas dificuldades de manejo do quadro, chorando na consulta, com dúvidas importantes sobre seus filhos e com situações, que infelizmente, são fruto de uma abordagem equivocada por parte da família.

As pessoas acham que quando orientamos não deixar uma criança tirar a roupa, ensiná-la a não bater e a comer na mesa, colocar regras e ensinar a criança a segui-las, é só porque é “legal”.

O que não se entende, às vezes, é que um menininho de 4 anos tirando a roupa é engraçadinho, mas aos 20 anos já não é. E aí, como tirar um comportamento de 15, 16 anos de evolução?

Nós nos condoemos pela situaçao das mães, mas nessa idade, já não temos tantos recursos à oferecer. Eu sempre acredtio que há como melhorar, mas convenhamos não é como na infância.

Só nos resta, então, acolher essas famílias, ouvi-las, mostrar que sabemos que elas estão fazendo seu melhor e trabalhar com os pacientes o máximo possível de habilidades.

Nosso programa visa o atendimento clínico e pedagógico dessas crianças e adolescentes dando condições para que possam desenvolver suas habilidades, bem estar emocional e seu equilíbrio pessoal.

Porém trabalhamos com recursos pequenos, em meio período, pois não temos espaço físico para período integral e atualmente não temos vaga, pois são indivíduos que raramente damos alta e não acredito no trabalho com autista em turmas com mais de 4 alunos.

Temos conseguido bons resultados, especialmente no treino de habilidades de vida diária e na orientação familiar, mas quando pegamos um dia inteiro só avaliando os casos mais gravemente acometidos, eu me pergunto o que mais fazer! Mas aí, olho meus meninos entrando na escola, comendo sozinhos, escovando os dentes e olhando (ainda que brevemente) nos meus olhos e sinto que devemos respeitar o tempo deles, reestruturar as nossas expectativas e ter um pouco de paciência, porque cada conquista por menor que seja, vale todo o trabalho.

Um abraço
Dra Alessandra

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