segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Ele é tudo de ruim"

Atendi um menino semana passada, com 10 anos e um quadro comportamental importante. J. se recusa a ir à escola. E como já é um rapazinho, simplesmente não vai. Se joga no chão, grita, bate, enfim, não vai há 2 meses na aula.

Ele passou em triagem comigo e com a psicologia, e ainda que numa observação mais superficial, nós não fechamos qualquer diagnóstico neurológico ou psicológico.

A situação familiar é extremamente conturbada e a mãe não oferece o suporte necessário. Ele já passou em vários tratamentos, mas nenhum é levado com seriedade.

Durate a avaliação, pergunto como ele é em casa e lá vem uma chuva de queixas e acusações: J. é agressivo, desobediente, bate na mãe, é insuportável, etc, etc, etc. Eu já meio sem jeito fiquei observando J. sentadinho na cadeira ouvindo a mãe dizer tudo isso dele, mas a psicólogca foi além e perguntou o que ele fazia de bom e a mãe tranquilamente respondeu: - Nada, esse menino é tudo de ruim!!!

Como assim?? Eu quase cai da cadeira! Como uma mãe fala na frente do filho que ele é tudo de ruim? Ela estava nos dizendo que recebeu uma criança pura e fresca, e em 10 anos de convivência, não conseguiu despertar nada de bom nele. Essa é a nossa responsabilidade como pais.

É claro que naquele momento não pontuamos nada com a mãe, pois ela não tinha condições de nos ouvir, mas fui para casa refletindo como às vezes, a criança é tratada como o problema e na verdade é a grande vítima da situação.

Uma palavra tem poder. Se você fala para o seu filho que ele é tudo de ruim, com certeza ele vai ser, pois essa é a expectativa que você joga nele. E se perto do profissional foi assim, fico imaginando em casa como deve ser.

E assim, uma criança normal, é rotulada de problemática, recebe uma pilha de encaminhamentos – ao neuro, ao psiquiatra, ao psicólogo – enfim, uma iatrogenia.

O que ficou disso foi uma avaliação de ambos pela psicóloga, uma avaliação neurológica para a criança e a certeza de que aquela criança sofre.

Minha grande briga com parte das mães dos meus pacientes é exatamente essa. Criança tem que ser criada com amor, com carinho e com limite, sabendo que alguém a ama incondicionalmente e que estará lá para suportá-la. E isso, não há remédio no mundo que substitua.

Boa semana
Um abraço
Dra Alessandra

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dúvidas, sugestões, comentários? Me escreva!!!

Ansiedade na infância: por que nossas crianças sofrem com o amanhã?

Eu acho que a infância é, sem dúvidas, a melhor fase da vida. Onde tudo é lúdico e onde a vida ainda é mais diversão do que obrigação....