terça-feira, 25 de junho de 2013

UMA REFLEXÃO SOBRE A MEDICINA NO BRASIL


Entretanto, essa semana, todos nós médicos fomos obrigados a tirar um momento para refletir sobre nosso papel, nossa carreira, enfim, nossa profissão.

Há tempos a medicina perdeu aquele “glamour” dos séculos passados. Somos trabalhadores como qualquer outro, ganhamos pouco, trabalhamos em várias jornadas paralelas, dormimos mal, comemos pior, vivemos com rotinas bem diferentes daquelas que orientamos aos nossos pacientes como saudáveis.  

Mas o que se viu nessa semana com o pronunciamento da nossa “presidenta” foi um descaso, um desrespeito a uma classe de trabalhadores. Dizer que a causa dos problemas da saúde no Brasil é a falta de médicos, me parece uma piada de muito mau gosto.

Falta muita coisa sim, até médicos, mas o problema começa muito antes. Falta estrutura, investimento, aparelhagem, e mais uma infinidade de coisas que poderia passar o dia listando.

Nossa formação é longa, sofrida. De verdade. Noites sem dormir, estresse, morte e vida por todos os lados. Muitas horas de plantão e estudo. Muito choro e muito riso. Temos que aprender a comemorar as vidas salvas, mas também a dar notícias ruins.

E ainda assim, depois de 11 anos no meu caso (6 de faculdade, 2 de pediatria e mais 3 de neurologia), saí acreditando em algo melhor. Essa esperança muito se desfez na quantidade de vezes em que vi uma criança morrer literalmente em meus braços, por não ter uma vaga em UTI, ou numa ambulância em alta velocidade porque a vaga demorou e mais vezes ainda, morrer ao chegar na UTI porque a vaga demorou muito. São todas cenas inesquecíveis. Cada criança que morreu comigo foi uma dor, mas aquelas que no fundo eu sabia que se foram por conta de uma estrutura falha e desumana, fruto de muitos desvios de verba, de corrupção, essas tem um gosto que a gente nunca esquece. Ver uma mãe pedindo desesperada: Dra, salva meu filho, ou uma criança pedindo: Tia, não me deixe morrer; e você não ter certeza se pode prometer isso, porque a vaga não sai. Você liga para 4, 5 hospitais e todos lotados. Acreditem, é o pior momento da vida de um médico.

Mas ainda assim a gente segue, estuda, melhora o olhar clínico, tenta de alguma forma precisar cada vez menos do sistema. Alguns endurecem, outros desistem. Outros ainda sobrevivem e lutam mais ainda. Cada um se vira como pode.

Essas são histórias muito particulares que divido hoje com vocês para que não pareça que estamos fazendo reserva de mercado quando falamos que médicos estrangeiros não são a solução. Que saúde é coisa muito séria e que nossa profissão é digna e merece respeito. Tem médico ruim? Claro. Como tem qualquer outro profissional ruim e desonesto. Mas não podemos generalizar. Tem muita gente boa, que como eu, ama o que faz e só quer um pouco de dignidade para poder levar a vida cuidando de outras vidas.

Vamos torcer e gritar e lutar por um país melhor. E com saúde.

Um abraço

Dra Alessandra

domingo, 2 de junho de 2013

ESCOLA ESPECIAL: Considerações finais

Continuando no difícil assunto da semana passada, o momento de colocar um filho na escola é bastante delicado. Se esse filho é uma criança especial, a ansiedade se multiplica por mil.

O que mais ouço são perguntas como: " quem vai trocar a fralda dele?", "ele não fala, como vai se defender?", "será que vai aprender?". São perguntas para as quais infelizmente não tenho respostas. Não sei se essa criança será bem cuidada, bem aceita, bem tratada, incluida realmente.

Tenho casos lindos de inclusão social e pedagógica. De escolas que abraçam a causa, fazem adaptações, estudam, incluem. Tenho casos horrososos de descaso, falta de respeito e até de humanidade. Professores que colocam apelidos no deficiente, que o deixam fora da sala sentados num canto, enfim, toda gama de barbaridades.

O sistema de educação brasileiro, assim como o da saúde, é ruim, falho. Ruim para inclusão na rede privada e medonho na rede pública. A inclusão se faz às custas de talentos individuais e não de boas politicas públicas. Se o professor ou o diretor "abraçam" a causa, pronto! Caso contrário, nem uma criança com TDAH (que não é caso de inclusão) consegue se sair bem.

Resumindo, esse é um momento de mudança. A hora é agora. Não sei dizer qual a melhor escola, regular ou especial, só sei que neste momento, a família tem que estar muito presente, participando, ajudando a escola a se adaptar e que a relação escola-saúde tem que se estreitar mais e mais. Para que junto cheguemos ao objetivo final e comum de crianças incluídas, aprendendo ao máximo dentro das suas potencialidades, e fundamentalmente, sendo felizes.

Boa semana
Sejam felizes
Dra Alessandra

Ansiedade na infância: por que nossas crianças sofrem com o amanhã?

Eu acho que a infância é, sem dúvidas, a melhor fase da vida. Onde tudo é lúdico e onde a vida ainda é mais diversão do que obrigação....