terça-feira, 3 de junho de 2014

PAIS TERAPEUTAS

Por Melanie Mendoza
Neuropsicóloga

Outro dia li um artigo na Internet sobre a “terceirização” da criação dos filhos. A matéria falava sobre crianças que eram cuidadas e educadas por babás que eram responsáveis por não apenas alimentar e dar banho, mas também ensinar o que é certo e errado, acompanhar a criança nos momentos de lazer, inclusive nas férias em família. Aos pais sobrava muito pouca coisa das tarefas relativas à maternidade e paternidade. 

Isso me fez pensar sobre o que ocorre nas relações entre nós, prestadores de serviços da área de saúde, os pais e nossos pacientes, as crianças e pacientes com deficiências.
Terapias para crianças tem como regra a necessidadede adesão da família. Ao contrário do ocorre com um adulto que faz reflexões sobre o corrido em terapia, os mais jovens vivem momento presente e depois tendem a esquecer, porque não faz parte da sua etapa de desenvolvimento refletir demoradamente sobre tópicos. 
Por esta razão, independente do diagnóstico, o psicólogo trabalha com orientações e propostas de mudanças ambientais para que o que foi aprendido durante a sessão seja efetivamente adquirido e utilizado em outros contextos melhorando a qualidade de vida do paciente.
O que ocorre quando o família acredita – de maneira consciente ou não – que sua tarefa está plenamente realizada ao ter contratado um profissional para tratar de sua criança? A resposta é simples: os resultados tendem a ser pífios.
Em países como os EUA ou Itália, existem parecerias com universidades e terapeutas ou a prestação de serviços públicos em modelos que tornam a demanda de trabalho dos pais muito menor. São oferecidas muitas horas semanais de terapia, apoio pedagógico e/ou acompanhantes terapêuticos nas escolas de forma que resta aos familiares mais o papel de pai e mãe e menos “co-terapeuta”.
Infelizmente essa realidade está muito longe de ser implementada em nosso país. ONG’s trabalham em seus limites de número de pessoal, financeiro e de vagas, portanto o número de atendimentos semanais deve ser reduzido ao essencial, cabendo aos familiares realizarem muito mais tarefas de estimulação cognitiva, fisioterapia, manejo de comportamentos disruptivos, e etc.
Nos serviços públicos, embora existam exceções, a realidade tende a ser pior, já ouvi sobre serviços que fazem atendimentos trimestrais, crianças atendidas por anos sem diagnóstico, modelos terapêuticos sem comprovação científica, para citar apenas alguns exemplos.
Enquanto não existir um sistema de saúde acessível formado por terapeutas com capacidade de atuação em equipes multiprofissionais e alto nível técnico capaz de absorver a demanda de pacientes, caberá sim aos pais e cuidadores trabalhar mais para que seus filhos desenvolvam plenamente seu potencial.
Vamos exigir atendimento eficaz e suficiente para os portadores de necessidades especiais e enquanto isso não acontece vamos trabalhar em parceria para o desenvolvimento de seu filho. 

Esse texto foi publicado no site acessibilidade total em abril de 2014.

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