terça-feira, 20 de março de 2012

Ser pai (ou mãe) é uma arte

Hoje presenciei uma cena que me comoveu. Especialmente porque foi um episódio de amor explícito vindo de um paciente e disponível pai.

Longe de mim, levantar qualquer bandeira ou generalizar situações, mas na minha vida clinica, a esmagadora maioria dos casos em que há uma criança com necessidades especiais, a cuidadora é a mãe, depois os avós e só depois, o pai.

Chega a ser frustrante, a quantidade de vezes que escuto a mesma história: Doutora, depois do diagnóstico, o pai foi embora e nem vem mais nos visitar. Já tem outra família.

Não acho que filho nenhum deva segurar um casamento onde não há mais amor ou cumplicidade. Mas não existe ex-filho. Essa é uma escolha para a vida toda e fingir que um filho não existe, em minha opinião, é uma falha de caráter.

Mas fato é que alguns pais são dedicados e amorosos e tenho também a situação inversa, em que a mãe abandona o filho e o pai assume toda a responsabilidade. Não é o mais frequente, mas como disse não estou aqui levantando nenhuma bandeira.

Voltando a história, estava no metrô em São Paulo, no começo da tarde, vagões vazios e a bela estação Sumaré, na linha verde, à nossa frente, quando ouvi uma voz mais alterada.

Era um jovem rapaz de seus 14 anos, com Síndrome de Down, que agitado não queria sair do metrô. Seu pai calmamente explicava que ele já era um rapazinho e que estava na hora de descer, pois ele tinha que trabalhar. A cada elevação de voz do garoto, o pai lhe fazia um carinho no rosto que arrancava um sorriso do menino. Mas não teve conversa. Chegou a estação e ele não desceu.

O pai continuou explicando, com firmeza e calma, evitando uma crise de birra, mas sem abrir mão da sua posição, até chegarmos à próxima estação, onde desci, junto com eles, que tomaram o trem para o outro lado já com o menino concordando em descer na estação certa.

Fiquei me perguntando, quantos de nós tem a disponibilidade emocional de andar uma estação a mais de metrô para não estressar um filho especial, sem brigar ou gritar com ele, só pontuando com firmeza?

Crianças com deficiência intelectual, autistas, entre outros se estressam quando saem de sua rotina ou quando estão em grandes aglomerações. Respeitar esse momento com amor e paciência é um exercício de paternidade que é raro se ver, mas quando presente aquece nossos corações.

Boa semana.
Dra. Alessandra

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