segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Criança é tudo de bom!!!

Atendi uma menina semana passada, com 14 anos e um quadro grave de ECNE (ou paralisia cerebra – eu não gosto desse nome!!) que me deu uma lição de vida. Na verdade, não ela, mas sua irmãzinha – uma figurinha que veio junto à consulta.

S. tem um quadro de incapacidade motora grave (forma tetraespástica de ECNE), associado à uma deficiência visual importante, sequela de uma infecção congênita por citomegalovírus. Não fala, não anda, não senta, tem poucas aquisições tanto motoras, quanto cognitivas.

É uma menina muito bem cuidada, com órteses, cadeira de rodas adaptada e uma família bem continente às suas necessidades.

A mãe me contava que teve muita dificuldade para ter um outro filho. Isso só ocorrreu quando S. estava com 10 anos, pois tinha muito medo de se repetir toda a história de sofrimento e superação que foram os primeiros anos de S., com muitas crises epilépticas, muitas penumonias, várias internações, enfim, muito sofrimento.

Mas, pela vontade do pai e insistência da família e até dos médicos que acompanhavam o caso, ela acabou cedendo e engravidou. A irmã, M. é uma fofa. Três anos de pura energia. Esperta, alegre, presente. Me falou de sua irmã, das dificuldades motoras de S., e que ela ajuda a cuidar, pois ela é pesada e a mãe tem dificuldades para cuidar sozinha. Gosta de ajudar no banho, levantando o braço e esfregando a barriga de S.

Mas o que ela mais gosta mesmo, é de brincar de se maquiar com S., faz penteados lindos na irmã. Trata a irmã com uma ausência de preconceitos e com um amor incondicional, que acho que só as crianças são capazes. Ela não entende a diferença como uma perda e sim como algo natural. “Ela é diferente de mim e eu adoro ela” – foi a frase que ela me disse. Simples, clara, resolutiva.

É uma pena que nós adultos tenhamos perdido esse olhar para o outro, essa coisa pura de enxergar o outro sem susto, sem preconceito, sem julgamento. Essa magia que só a criança tem. Tenho uma amiga de residência (que não vejo há tempos) que falava que a pediatria tem pó de pirlimpimpim. É um mundo encantado, onde até as dores são diferentes.

S., é claro, melhorou muito após o nascimento da irmã. Mais alerta, mais atenta, sabe até as rotinas da irmã, que já vai para a escola e espera ansiosa pela sua volta. Não fala, mas quando ouve a voz de M. sorri agradavelmente. E M. competa: viu, tia, como ela me conhece? E sai novamente correndo pela sala atrás de brinquedos para brincar com a irmã!


Boa semana! Um abraço!
Dra Alessandra

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